18.9.08
Até que ponto partilhar as dores da Humanidade?
Ainda dói.
Enquanto dói, tento partilhar.
Partilhar a sensação de que a dor também instrui e salva. Temos tanta demanda de violência hoje, que um fato a mais chega até nós, como um vírus a penetrar em nossas mentes já entorpecidas pela vacina do enfraquecido senso comum. Mas, a nova nem sempre é boa e a morte dos irmãos Igor e João Vítor de 12 e 13 anos, comoveu-me profundamente. Não foi apenas a morte de mais duas crianças, nem mesmo a forma brutal como foi praticado. Mais do que isso, o detalhe que muitas vezes escapa, pela sutileza do gesto inocente ante a perversidade da alma humana. Qual será?
O simples fato de terem pedido ajuda. Simples, reconfortante e segura ajuda. Que não veio. Este é o pequeno grande detalhe deste enredo trágico, que tem como pano de fundo uma sociedade em falência.
Duas crianças. Expulsas de casa após diversos maus tratos, procuraram a polícia, que por sua vez os encaminhou ao Conselho tutelar. Mesmo assim, foram indeferidas e desencorajadas de seu desejo infantil por optarem pela vida. Foram enviadas de volta pra casa. Pensaram então em procurar o último reduto de fé para uma alma ingênua: a instituição religiosa. Numa casa evangélica, deram seu testemunho final. Bateram em todas as portas, que se fecharam para elas.
Quando compreendi isto, as lágrimas já desciam pelo rosto, buscando o solo. Salgadas, febris. Ansiando por acordar a alma ainda desuna desta Humanidade.
Nós que somos pais, sempre nos remetemos aos nossos filhos. É difícil encarar com o peso sujo da consciência coletiva.
Ainda dói. Mas há esperança.
Gusthavo Corrêa
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Livro
O SILÊNCIO E A VOZ DO TROVÃO
O SILÊNCIO "Ensinamento através de um Índio Ancião" Não temos medo dele. Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que as palavras. Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silêncio e eles nos transmitiram esse conhecimento. "Observa, escuta, e logo atua", nos diziam. Esta é a maneira correta de viver.Observa os animais para ver como cuidam de seus filhotes.Observa os anciões para ver como se comportam. Observa o homem branco para ver o que querem. Sempre observa primeiro, com o coração e a mente quietos, e então aprenderás. Quanto tiveres observado o suficiente, então poderás atuar.Com vocês, brancos, é o contrário. Vocês aprendem falando. Dão prêmios às crianças que falam mais na escola. Em suas festas, todos tratam de falar. No trabalho estão sempre tendo reuniões nas quais todos interrompem a todos, e todos falam cinco, dez, cem vezes. E chamam isso de "resolver um problema". Quando estão numa habitação e há silêncio, ficam nervosos. Precisam preencher o espaço com sons. Então, falam compulsivamente, mesmo antes de saber o que vão dizer.Vocês gostam de discutir. Nem sequer permitem que o outro termine uma frase. Sempre interrompem. Para nós isso é muito desrespeitoso e muito estúpido, inclusive. Se começas a falar, eu não vou te interromper. Escutar-te-ei. Talvez deixe de escutá-lo se não gostar do que estás dizendo. Mas não vou interromper-te. Quando terminares, tomarei minha decisão sobre o que disseste, mas não te direi se não estou de acordo, a menos que seja importante. Do contrário, simplesmente ficarei calado e me afastarei. Terás dito o que preciso saber. Não há mais nada a dizer. Mas isso não é suficiente para a maioria de vocês.Deveríamos pensar nas suas palavras como se fossem sementes. Deveriam plantá-las, e permiti-las crescer em silêncio. Nossos ancestrais nos ensinaram que a terra está sempre nos falando, e que devemos ficar em silêncio para escutá-la.Existem muitas vozes além das nossas. Muitas vozes. Só vamos escutá-las em silêncio. |